23/06/15

DIA NÃO



Hoje vou pegar na minha vida e fecha-la na caixa escondida.
Vou calar as palavras e deita-las ao vento.
Engulo os sabores  peculiares de um chá negro e esqueço a poesia.
Cerro os olhos e respiro devagar.
Encerro a porta. Ninguém entra.





21/06/15





A paixão começa no olhar penetrante e ardente,
no toque da mão que desliza pelo ombro e cai devagar;
continua  no beijo límpido e fogoso
que aquece os lábios e morde a língua de prazer;
prolonga-se no calor dos corpos que se dão em precipício
da volúpia e completam o ser. As almas unem-se.
A paixão termina quando o sangue deixa de correr no coração e gela.

A alma volta a ser una. 

arte Mira Nedyalkova

20/06/15

NOITE EM DÓ



A noite surge entre as estrelas e desperta feridas devolutas de paixão.
A noite limou as arestas da desilusão mas desperta os fantasmas...
os medos, prisioneiros num corpo esmaecido.
Os deuses, esses enganadores, devassam a noite e penetram
na intimidade do amor.
Levam-no para o abismo. Fica só e em silêncio. 
Em surdina, num qualquer refrão de um fado, surge, de novo, 
o amor ferido e triste.


(arte Josephine Cardin)

10/06/15


MOMENTOS


O tempo é um sorriso que me enlaça e completa-me a vida não vivida.
Acorda-me deste sono antigo, despe-me com suavidade e cobre a minha nudez com teu corpo. 
Percorre-me com as tuas mãos que me cingem a cintura e contorna as linhas do meu corpo com os teus dedos suaves. 
Beijamo-nos e nossos beijos são de espuma branca que escorrem pela nossa pele agitada. 
Os lábios reclamam o beijo húmido e sedutor. Os movimentos subtis acabam por condescender os nossos corpos que cedem e unem-se. 
Faço-me tua e possuis-me sem pressas. 

Sorrimos,por fim.


Arte Christian Schloe

09/06/15



Há palavras simpáticas que dizemos aos outros.
Há palavras agudas que nos ofendem.
Há palavras graves que nos desiludem.
Há sílabas que soletro e engulo por não as querer partilhar.
Há verbos que eu não conjugo por não acreditar.
Há palavras que esqueci por não serem verdadeiras.
Há palavras bonitas com que iludimos o outro.
Há palavras eternas e mudas que não repito por serem minhas.

Depois há a Palavra que veste o Poema e lhe dá Alma.