21/05/15

DESESPERANÇA



Esqueceste-me tão rápido, talvez eu o merecesse.
Quando me voltei já te tinha perdido na espuma
dos dias de um mês qualquer. Eu, naufraga de ti, procurei-te
por entre as pedras do caminho mas escondeste-te
nos lamentos de um amanhã incerto.
Já não valho a pena! Cansaste-te!

Tens razão ... eu não tenho o dom de fazer ninguém feliz.


Foto de Wacław Wantuch
A CARTA


Na plenitude dos meus sentidos e das minhas emoções
escrevo esta carta de despedida ao Amor.

Já não te creio. Já não te quero.
Enterro para sempre os despojos de ti que atormentaram
dia e noite o meu corpo frágil.
Os teus queixumes ficaram mudos. Não os entendo.
Conduziste a minha alma por caminhos floridos e perfumados.
No aconchego dos corpos levaste-me à exaustão.
Ouvi o murmúrio dos passarinhos dizendo-me que não te acreditasse.
Mas a minha loucura não lhes fez apreço e deixei-me levar
pelo teu feitiço estonteante e sagaz.
Por fim, digo-te que não passas de uma miragem no oásis
da minha vida repentina.

Desisti de ti.
Lamento.

Arte de Andrew Ferrez

10/05/15

GESTOS


Tens no rosto a doçura das camélias e nas mãos a ternura da madressilva.
O olhar de candura que me rodeia e me orienta na brandura dos dias passados ao redor das palavras. 
Acolhes-me em sonhos e abrigas os meus medos que não o sabes que os tenho. Adormeces o meu futuro que começa hoje sob estas letras de fadiga. 
Entregar-me-ia ao teu rumo sem bússola pois guiar-me-ias, mas a vida não me pertence, somente. 
Resta-me a presença intemporal do teu bem querer que me protege.



Arte de Claude Theberge

08/05/15

DESAIRE


A paixão venda-me os olhos e aquece–me o coração.
Andava distraída com o palavrear de amor com que te vestia
todas as noites. Segredava-te as três silabas e pontuava o teu corpo
com o meu amor.
Mas não vi que te ia perdendo numa esquina ao fundo da vida.



Fim.


Foto de Marta Orlowska


DESTINO



Como um dente de leão sopram-me para longe
ausentam-me em definitivo da vida a que pertenci.
Dei tudo de mim: a pele, o toque, o beijo, o bem querer,
mas o sonho encobre sempre a desilusão que me enlaça.
Dentro de mim não há ninguém, apenas um fantasma que 
pernoita em corações negros e assombra os sentidos.
Tornei-me uma pétala caída que voou.
No horizonte avisto a solidão acenando-me com as velas
içadas esperando-me para me acolher nas memórias.