05/08/15



Caminho pela água azul do mar em passos pequenos de dor.
Outrora fui sereia - musa ... dobrei o mais perigoso dos sentidos
das emoções ... o amor... 
Abri a concha e as minhas vestes transparentes refletiram a nudez do meu
corpo. Numa cama de jasmim, amei como virgem pura e
em gestos de volúpia e languidez, levei-te à sofreguidão de gestos com
palavras de sangue e de verdade. 
Agora o olhar está ausente e o corpo distante.
As cores do amor embaciaram e as palavras calaram-se.
O amor foi guardado para sempre. Fui vencida.

A concha fechou. Tu ficaste do lado de dentro do oceano.










Permaneço ou desapareço?

Não sei... se encontro o caminho
de volta a mim. Se te deslumbro
no nevoeiro da vida, fico de novo.
E perco-me na desilusão.



23/06/15

DIA NÃO



Hoje vou pegar na minha vida e fecha-la na caixa escondida.
Vou calar as palavras e deita-las ao vento.
Engulo os sabores  peculiares de um chá negro e esqueço a poesia.
Cerro os olhos e respiro devagar.
Encerro a porta. Ninguém entra.





21/06/15





A paixão começa no olhar penetrante e ardente,
no toque da mão que desliza pelo ombro e cai devagar;
continua  no beijo límpido e fogoso
que aquece os lábios e morde a língua de prazer;
prolonga-se no calor dos corpos que se dão em precipício
da volúpia e completam o ser. As almas unem-se.
A paixão termina quando o sangue deixa de correr no coração e gela.

A alma volta a ser una. 

arte Mira Nedyalkova

20/06/15

NOITE EM DÓ



A noite surge entre as estrelas e desperta feridas devolutas de paixão.
A noite limou as arestas da desilusão mas desperta os fantasmas...
os medos, prisioneiros num corpo esmaecido.
Os deuses, esses enganadores, devassam a noite e penetram
na intimidade do amor.
Levam-no para o abismo. Fica só e em silêncio. 
Em surdina, num qualquer refrão de um fado, surge, de novo, 
o amor ferido e triste.


(arte Josephine Cardin)

10/06/15


MOMENTOS


O tempo é um sorriso que me enlaça e completa-me a vida não vivida.
Acorda-me deste sono antigo, despe-me com suavidade e cobre a minha nudez com teu corpo. 
Percorre-me com as tuas mãos que me cingem a cintura e contorna as linhas do meu corpo com os teus dedos suaves. 
Beijamo-nos e nossos beijos são de espuma branca que escorrem pela nossa pele agitada. 
Os lábios reclamam o beijo húmido e sedutor. Os movimentos subtis acabam por condescender os nossos corpos que cedem e unem-se. 
Faço-me tua e possuis-me sem pressas. 

Sorrimos,por fim.


Arte Christian Schloe

09/06/15



Há palavras simpáticas que dizemos aos outros.
Há palavras agudas que nos ofendem.
Há palavras graves que nos desiludem.
Há sílabas que soletro e engulo por não as querer partilhar.
Há verbos que eu não conjugo por não acreditar.
Há palavras que esqueci por não serem verdadeiras.
Há palavras bonitas com que iludimos o outro.
Há palavras eternas e mudas que não repito por serem minhas.

Depois há a Palavra que veste o Poema e lhe dá Alma.



21/05/15

DESESPERANÇA



Esqueceste-me tão rápido, talvez eu o merecesse.
Quando me voltei já te tinha perdido na espuma
dos dias de um mês qualquer. Eu, naufraga de ti, procurei-te
por entre as pedras do caminho mas escondeste-te
nos lamentos de um amanhã incerto.
Já não valho a pena! Cansaste-te!

Tens razão ... eu não tenho o dom de fazer ninguém feliz.


Foto de Wacław Wantuch
A CARTA


Na plenitude dos meus sentidos e das minhas emoções
escrevo esta carta de despedida ao Amor.

Já não te creio. Já não te quero.
Enterro para sempre os despojos de ti que atormentaram
dia e noite o meu corpo frágil.
Os teus queixumes ficaram mudos. Não os entendo.
Conduziste a minha alma por caminhos floridos e perfumados.
No aconchego dos corpos levaste-me à exaustão.
Ouvi o murmúrio dos passarinhos dizendo-me que não te acreditasse.
Mas a minha loucura não lhes fez apreço e deixei-me levar
pelo teu feitiço estonteante e sagaz.
Por fim, digo-te que não passas de uma miragem no oásis
da minha vida repentina.

Desisti de ti.
Lamento.

Arte de Andrew Ferrez

10/05/15

GESTOS


Tens no rosto a doçura das camélias e nas mãos a ternura da madressilva.
O olhar de candura que me rodeia e me orienta na brandura dos dias passados ao redor das palavras. 
Acolhes-me em sonhos e abrigas os meus medos que não o sabes que os tenho. Adormeces o meu futuro que começa hoje sob estas letras de fadiga. 
Entregar-me-ia ao teu rumo sem bússola pois guiar-me-ias, mas a vida não me pertence, somente. 
Resta-me a presença intemporal do teu bem querer que me protege.



Arte de Claude Theberge